Uma pesquisa publicada nos Estados Unidos nesta semana revelou que quase 30% dos adolescentes americanos já praticaram alguma vez o sexting - ou seja, usaram seus smartphones para disparar mensagens contendo fotos em que aparecem nus, acompanhadas ou não de texto. O número, é claro, assusta. E os estudiosos da Universidade do Texas responsáveis pela pesquisa descobriram ainda outras pistas que ajudam a entender melhor esse fenômeno. A principal delas é que o sexting tem um vínculo com a prática "real" do sexo. De acordo com o levantamento, entre as adeptas do compartilhamento de fotos íntimas, cerca de 80% já praticaram sexo; o número de sexualmente ativas cai pela metade entre aquelas que também não se envolvem com sexting. Entre os garotos, o comportamento é semelhante. "Ainda não sabemos se é o sexting que leva ao sexo ou vice-versa, mas a prática de compartilhar essas imagens íntimas parece ser um bom indício de comportamento sexual", afirma o psicólogo Jeff Temple, principal autor do estudo, em entrevista a VEJA.com. "Se um adolescente está enviando SMS com fotos ousadas, provavelmente já está fazendo sexo." Ou está a caminho de perder a virgindade.

O estudo americano considerou apenas imagens de nudez enviadas pelo celular, descartando casos em que jovens usam o computador ou outro meio digital para mandar autorretratos picantes. É o que a própria expressão "sexting" sugere. A palavra, que já entrou para o dicionário Oxford da língua inglesa, é a junção de outras duas: "sex", sexo, e "texting", que designa a troca de mensagens de texto via celular. Pesquisas que levam em conta também o computador costumam encontrar taxas de adesão menores à prática - daí o susto com os 30% revelados pelo novo estudo. Isso serve de alerta aos brasileiros. A pesquisa que se tornou referência sobre o assunto no país, feita em 2009 pela SaferNet, associação que zela pelos direitos humanos na internet, apontou que 12,1% das 2.525 crianças e adolescentes ouvidos já haviam praticado o sexting usando algum dispositivo eletrônico. É possível, portanto, que a participação seja maior, se forem considerados os celulares exclusivamente.


No Brasil, o caso mais recente acabou em prisão. Aluna do primeiro ano do ensino médio do Colégio Maxi de Cuiabá - primeiro colocada no ranking do Enem entre as escolas do Mato Grosso -, uma garota de 14 anos fotografou-se nua. As imagens circularam entre os colegas até que, há três semanas, um jovem de 18 anos foi preso em flagrante, acusado de armazenar as tais fotos em seu celular. É crime produzir, divulgar, compartilhar ou até mesmo possuir pornografia infantil. Imagens de outras estudantes também circularam, mas não continham nudez, apenas insinuações sensuais.
"Nós denunciamos o caso à Polícia, embora as fotos tenham sido feitas fora dos domínios da escola", diz o pedagogo Virgílio Tomasetti Júnior, diretor geral dos Colégios Maxi de Londrina e de Cuiabá. "Recomendamos aos pais de todas as envolvidas que as estudantes fossem transferidas para outra escola, evitando constrangimentos, mas eles optaram por mantê-las aqui. Agora, nosso desafio é protegê-las de um eventual bullying." O pedagogo tem uma opinião bem definida sobre a prática do sexting: "Deve que ser coibido: não leva a nada e não ajuda em nada esses jovens. Erram os pais que permitem que isso aconteça."


O castigo é certo, previsto em lei. Mas seu potencial pedagógico é colocado em xeque pela SaferNet, entidade que continua a se dedicar à questão. "Penalizar ações individuais nesse caso é como enxugar gelo. Seria mais produtivo nos antecipar ao problema, tentando ensinar os adolescentes a fazer boas escolhas na internet", diz o psicólogo Rodrigo Nejm, diretor de prevenção da SaferNet e estudioso do assunto. "A sexualidade da criança e do adolescente ainda é um tabu para muitos pais e educadores. É preciso conversar com eles e ensiná-los a usar a tecnologia com consciência."
0 comentários: